segunda-feira, janeiro 29, 2007

Na Minha Curta Maneira (Parte 5) Ou A Natureza E As Esporas


Adaptação de Marcos Paulo

Segundo Charles Darwin, somos seres em constante evolução, pois aprendemos com os nossos erros e só os mais fortes e espertos sobrevivem. Eu confesso que tenho nadado contra a maré, não consigo evoluir e deixar de acreditar nas pessoas, mesmo sabendo que posso ser usado, manipulado, ferido e segundo Darwin, extinto. Não faz muito tempo e perdi um grande amor para a vida. Motivos: imaturidade em resolver as diferenças de forma sensata, insensatez, pressa, falta de carinho e a grande capacidade humana de querer que o outro viva de acordo com o seu ponto de vista. Fiz a promessa de jamais confiar em outra pessoa novamente. Tolinho!!! Não adiantou nada, acabei quebrando essa promessa novamente. E, a cada vez que isso acontece, tenho medo de querbrar essa promessa.
Tenho hoje alguns amigos dos quais confio plenamente e pelos quais, tenho muito estima. A
verdade é uma só, não sei quanto a vocês, mas não sei viver sem amigos. Aconteceu como se fosse ontem: partiram meu coração, ainda procuro os pedaços, mas sei que não deixarei de amar da forma a qual eu amei. É a minha natureza: amar é se entregar totalmente à
pessoa amada. Eu sei, preciso evoluir. Preciso criar máscaras, barreiras e defesas para não me machucar novamente. Preciso manipular, usar, mentir e manter o jogo, se quiser ser feliz no amor. O problema é que quando eu amo, eu arrisco mesmo, mas jogo pra vencer. Tudo bem, você agora pode jogar na minha cara que fui abandonado pelo meu amor, e ai? Te digo: Podemos ter tudo o que queremos, mas, tudo o que for pra gente mesmo. Amar é dar a cara às tapas, mostrar suas verdadeiras cores, admirar e cuidar bem de quem está ao seu lado, ter carinho, ser incondicional, mesmo que seja por uma semana, um dia. Amizade é compartilhar, se abrir, falar um monte de besteira e até chorar, mas acima de tudo confiar. Tanto no amor quanto na amizade, não dá para estar ao lado de alguém só pela metade. Não adianta "To have and not to hold". Precisamos estar plenamente com as pessoas que gostamos. Se elas não agem assim conosco, o problema é delas, não nosso.
Não podemos mudar quem somos, por causa da atitude e opinião dos outros. Osho, um sábio indiano, que era muito louco e iluminado ao mesmo tempo, costumava dizer : “Esteja Pleno. Quando conversar com os seus amigos, seja a própria conversa. Quando beijar quem vocês amam, seja o próprio beijo." É, o cara sabia mesmo! Sim, estar plenamente com alguém deveria ser obrigatório, mesmo que isso não seja suficiente. Sim, eu sei! Precisamos estar bem treinados para montar nesse cavalo selvagem chamado amor, nesse touro indomável chamado amizade, mas como não nasci mesmo para ser boiadeiro, nem cavaleiro; continuo tentando olhar no olho desses bichos e me comunicar, mostrar que eles não precisam temer. Apesar da dor cavalgar junto com o prazer, montar nesses animais não tem nada a ver com poder e sim com respeito. Por isso e talvez por pura teimosia, não uso esporas, chicotes ou laços e mesmo que eu caia de novo, não vou mudar, vou me levantar e recomeçar tudo de novo.


Reiventar-se, ainda que tenha usado isso.
Ousar sonhar, mesmo que para isso não se pague nada.
Manter-me na minha curta maneira.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Na Minha Curta Maneira (Parte 4) Ou Depressão


Por Marcos Paulo

Você me chamou ontem, basicamente para dizer que você tem um carinho por mim. Mas que não está mais na paixão.
Imediatamente, eu fingi sentir a mesma coisa, mas não consegui. E deixei você acreditar que estava tudo bem. Tento entender, como você pode fugir de uma coisa que é sagrada e tão especial para mim, e que achava que era pra gente também.
Bom, eu acho que estou tentando ser Indiferente sobre isso. E eu irei ao extremo. Para provar que eu vou ficar bem sem você. Mas na realidade, devagarzinho eu estou perdendo minha cabeça. Debaixo de um falso sorriso, aos poucos estou morrendo por dentro.
Amigos me perguntam como me sinto. E eu minto convincentemente, porque eu não quero revelar o fato de eu estar sofrendo.
Então, eu visto meu disfarce. Até eu ir para casa a noite. Parece que o caminho devolta do trabalho é mais distante. Ao chegar, desligo as luzes do meu quarto, e daí eu desabo e choro.


Mas agora me diga: Então, o que você faz quando alguém que você se dedica derepente deixa de te amar?
E parece que eles não percebem o que te causa a dor da rejeição. Como se você fosse um copo descartável. E que está te colocando ao fim.

Você se abraça à sua oração?
E canta " Eu sobreviverei"?
Você esbraveja e diz: "Como ousa deixar este caminho"?
Você se segura no orgulho para a depressão ir embora?

Ai te pergunto: Pra quê se dedicar a quem você ama?
Pra quê ser fiel, leal, respeitoso e bom?
Pra quê dedicar as horas livres?
Pra quê aguardar uma ligação o dia inteiro?
Pra quê esperar pelo fim de semana?
Pra quê fazer planos?
Pra quê brigar por amor?
Pra quê o pra quê?
Subitamente pra depois você ouvir um "acabou"!

Eu me seguro no orgulho para a depressão ir embora.

Poesia Urbana

por Gleice Couto

Incessante movimento
Entra rua
Corta vilarejo
Asfalto quente
Idéias derretidas
Surgindo faíscas
Sem tempo de serem modeladas
E a cada esquina alguém pede algo
Compaixão em forma de esmola
Atenção em forma de moeda

Metal, vidro e concreto
Elementos não certos
Violentados por mãos e pés
Homens em busca de seu tesouro
Encarcerados nas grades de ferro
Talvez esquecidos
Apenas não lembrados
Fuga do inconsciente tardio

Poesia caótica
Sem versos fixos
Para quem lê, sem lógica
Para quem escreve, verdade dita
Entenda de olhos fechados
Ou a veja na avenida
No dia-a-dia perdido
Na pressa de se chegar
Mesmo sabendo que não há partida
Em cada calçada a ser percorrida

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Último Ato

por Gleice Couto


Acho que não estou mais acostumada com o ranger da madeira por debaixo de meus pés. Mesmo caminhando devagar, o barulho de algo se partindo me incomoda ligeiramente. Não por ser um som desagradável, mas sim por vim transbordando de significados... Alguns eu quero esquecer, a grande maioria vivenciar. Meus passos ecoam pelo vazio que já esteve repleto. Repleto de sentidos... Risadas... Choros... Pessoas... Vazio que agora transpassa absolutamente nada. Nada.

Ainda não levanto o rosto. Meus olhos teimam em reparar nas fendas do chão. Elas não significam, eram apenas um pretexto para olhar para frente. Não veria o futuro, nem relembraria o passado. Seria só o agora que teria que encarar. O agora que há pouco foi ontem. Quero que seja como se fosse a primeira vez, tento resgatar a mesma sensação. O momento é outro, eu sei. Não importa.

Em todos os espaços entre um amanhecer e um anoitecer, o roteiro mudou constantemente. Passou pela comedia... Pelo romance... Pelo drama... Boa parte pela fantasia. Ilusão do ser... Do estar... Do sonhar...

A direção às vezes se perdia em meio a tantas variações. Cenários novos... Figurinos remendados... Iluminação inexistente... Era tudo uma questão de adaptação, logo sabia qual destino seguir.

Alguns personagens principais passaram a ser secundários, outros saíram de cena. Vários figurantes atuaram de modo exemplar, permanecendo no elenco até o final. Os antagonistas? Apenas me divertiram... Fizeram-me mais forte, elevaram a minha vontade de continuar o caminho.

Escuto um aplauso ao fundo...Tímido, mas presente. Somente então, meu foco muda. Observo o que estava diante de mim. A partir daquele instante, nem o eco... Nem o ranger da madeira... Nem o roteiro... Ou direção... Ou atores... me aborreciam. Tudo tinha sido válido. Apenas por causa de um aplauso. Um único reconhecimento.

Em agradecimento, faço uma reverencia.

Era o último ato do espetáculo da minha vida.

Cai o pano.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Na Minha Curta Maneira (Parte 3) Ou Quatro

Por Marcos Paulo

Apenas quatro meses que é o tempo que estou com você. Quatro meses menos uma briga, dão três vezes mais apaixonado por você. Quatro meses vezes trinta dias dão cento e vinte dias em que só penso em você, mas com você mesmo, apenas um quarto disso.
Em oito semanss eu te disse que te amava, e faltando quatro semanas você me disse o mesmo.
Com quatro meses a gente sonha, eu, com quatro dias, ainda me indagava. Em quatro dias acertamos tudo e com mais quatro o nosso segundo beijo.
Quatro vezes foram as vezes em que fizemos amor, sendo que na quarta vez tudo foi mais completo. Se eu contar direito, não consigo ficar mais do que quatro dias sem te ver, que já contabiliza a metade dos dias em que não te vejo. Quatro mais dez são catorze, com mais catorze vinte e oito, que foi o máximo de dias que ficamos sem nos ver, para depois ficarmos catorze horas juntos.
Espero não ficar mais quatro meses e sim quatro vezes um século que dão quatro mil e oitocentos meses com você.

Obs.: Esses textos com o título "Na minha curta maneira" fazem parte do livro homônimo. Qualquer semelhança com fatos e nomes será pura verossimilhança.

Abramos Os Olhos

por Gleice Couto

Já faz um tempo que a idéia desse texto de hoje está na minha cabeça. Por muitas vezes o adiei, como se esperasse que a idéia tomasse forma, amadurecesse em minha mente. Só que agora, diante do ocorrido nesse último fim de semana, encontrei o momento propicio para ele.

Na verdade, o tema do texto surgiu quando passeando por Fotologs da vida, li em um deles, a pessoa se dizendo revoltada com a falta de segurança no Rio, pois um amigo dela tinha sido alvo de um assalto em seu carro, na Barra da Tijuca.

Não tiro o direito da pessoa estar indignada, mas isso ficou na minha cabeça, porque muitas vezes só percebemos que algo existe quando acontece conosco ou com alguém próximo. E quando isso acontece, tudo o que sabemos não passa de superficialidades.

Porque falar da criminalidade quando você mora de frente pra praia em um apartamento de 200m² é fácil, muito fácil. É mais fácil ainda, eu estar aqui escrevendo sobre violência quando tenho um ótimo PC, uma ótima casa e pago uma faculdade cara.

O difícil é você conviver com ela 24 horas por dia, 7 dias por semana, 12 meses por ano. E essa realidade não está muito longe de você, ou de mim ou de qualquer um. Basta abrir os olhos e ver que em toda esquina há uma comunidade, há uma favela.

Repare bem que você verá essas pessoas de quem falo, que diariamente lutam para conseguir o direito de apenas viver...Viver.

Abaixe o vidro fumê do seu carro importado quando passar por um lugar carente. Repare em cada pessoa que está ali, repare em suas roupas gastas pelo uso, em suas feições cansadas, em seus rostos com a expressão dura de quem a cada dia vive em uma guerra interna, em busca de um pouco de dignidade.

Compre um apartamento com vista para a favela e sempre que você for admirar a paisagem, perceba que há gente vivendo em casa de alvenaria, sem rede de esgotos, sem o mínimo de condições de higiene, que fazem sua necessidades fisiológicas em buracos feitos no chão, que dividem um cômodo com uma dúzia de pessoas.

Não vire o rosto para o lado oposto quando ver na rua alguém pedindo esmola. Olhe essa pessoa bem nos olhos e veja o seu próprio reflexo nela, pois ninguém está livre de um dia estar ali, ao seu lado, dividindo suas esmolas e sua ausência de esperança.

Não finja que as crianças que estão na rua não são de sua responsabilidade. Elas não estão ali porque querem, estão ali porque vivemos em uma sociedade de oportunidades desiguais, onde nem sempre aquele que se esforça e corre atrás, é o que vence, onde as dificuldades se fazem tão constantes que é impossível não acabar cedendo a falta de opção.

Como disse anteriormente, não sou muito diferente de quem está lendo esse texto ou de quem reclama por segurança pública quando mora em um condomínio fechado de um bairro nobre do Rio de Janeiro. Somos todos abastados e vivemos uma realidade, se é que se pode chamara assim, que só uma minoria tem acesso. Pensemos juntos, então, analisemos o que acontece ao nosso redor, apontemos saídas e opções alternativas para que de algum modo façamos a nossa parte.

Abramos os olhos. Aceitemos a realidade que está diante de nossos narizes, mas que por hipocrisia ou vergonha nos fazemos de cego e não a enxergamos.

E pensar que isso tudo poderia ser resolvido com educação. Somente isso: educação.

Educação na família. Educação na escola. Educação para uma toda vida.

Tiro ao alvo

por Keissy Carvelli

Mãos ao alto
Quem fala é quem manda
De palitó e colarinho branco
Quem passa do lado de fora
Não vê o país na corda bamba
Acorda e veja o tirano
Tirando de nós um pouco que resta da fé
Acorda e veja o fulano
Com nome sujo falando no planalto o que quer
Tira o sorriso do rosto
Esconde o bandeira
Coloca no peito um alvo
A prova de bala, bobo, e ladrão
Tira a mão do bolso
Vossa Excelência mesma põem
Tira o saldo, tira o leite, põem a corrupção
Não existe mistério, não existe segredo
É um tiro no peito da fraca pobre população
É o óculos quebrado no rosto do cego
É a hipocrisia da nossa nação

Aquela

por Keissy Carvelli


Já fui palhaça de circo, hoje cansei, pendurei as botas no fundo do armário e as deixei lá, sem qualquer utilidade servindo apenas de lembrança para os momentos vazios de nostalgia.
Cheguei ao meu finalmente, sem um happy end,é claro, nada pode ser tão fácil assim.Não chorei, nem soltei um riso sarcástico, apenas fui irônica quando quis, e desliguei todos os seus sons quando precisei. E ainda preciso.
Preciso não ouvir sua voz, nem suas meias-mentiras, preciso me livrar de mim mesma enquanto é tempo, caso contrário será tarde de mais.
Rôo as unhas sem limite de parar, assisto filmes, toco qualquer cançãoo que já não lembro mais, conto os dias, os minutos, vivo os segundos.
Faço tantas brincadeiras infantis, tantos sopros sutis, tantas letras vagas que me surpreendo a cada passo, e passo o tempo assim.
Voltei a estaca zero, sem estar realmente zerada, vejo as flores sem imaginar as cores, e apenas espero aquela nova sensação de que tudo será pra sempre.Ou não, apenas aquela velha sensação de estar vivendo num filme hollywoodiano banal....apenas aquela.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Na Minha Curta Maneira (Parte 2) Ou Tempo De Esperança

Por Marcos Paulo

Esperamos todos os dias.
Esperamos até para nascer.
Esperamos a vida inteira para morrer.
Esperamos para receber nossos ordenados.
Esperamos para nos alimentar e nutrir nosso organismo que espera pra que isso aconteça quando tivermos tempo.

Tempo.
Dizem que o tempo é o senhor da razão.
Que todas as coisas têm seu tempo.
Que no meu tempo era assim, e que no seu tempo já não é mais.
Que temos que dar tempo ao tempo.
Que quando não amamos mais e não temos coragem para dizer, pedimos para dar um tempo.
A esperança cabe no tempo.
O tempo já não harmoniza mais com a esperança.
Entre se harmonizar e esperar pelas coisas, persiste o medo em estarmos fazendo algo errado. Ou não.
Se é certo ou não somente o tempo vai dizer.
Muitas das vezes, a esperança se mistura com o tempo.
E em outras, eles parecem ser a mesma coisa.
Entre esperança, tempo, medo e anseio, dos quais todos pertencem à mesma classe, eis o que temos que é ter tempo e esperança para questionar:
Será que ainda há tempo para a esperança?

Na Minha Curta Maneira (Parte 1)

Por Marcos Paulo
Eu não sou diferente de ninguém.
Quase todo mundo faz assim.
Eu me viro bem melhor.
Quando tá mais pra bom que pra ruim.
Não quero causar impacto.
Nem tampouco sensação.
O que eu digo é muito exato.
É o que coube na mente e no coração, né não?

terça-feira, janeiro 16, 2007

Sem Título

[ Um recado, antes de tudo... As pessoas não sabem. Não compreendem. Não estão dentro da minha cabeça para saberem o que realmente quero dizer com um texto ou poema. Ficam tentando decifrar o que quero dizer em cada linha escrita. Desnecessário. Não é para isso que escrevo. Não é para saberem de mim, mas para levantarem questões nelas mesmas. Suscitar assuntos que ainda não tinham parado para pensar ou sentir. O que eu escrevo não é sobre mim, é apenas uma parte de mim. Não tente me entender, nem eu tento isso. Apenas leia. Tire suas conclusões. Absorva o que escrevi para si. Não me julguem se baseando em algumas palavras. Qualquer pessoa é muito complexa para ser descrita nas vinte e três letras do alfabeto. Até mesmo eu. Não estou triste. Somente reflexiva. Pensar às vezes é bom. Tente. ]

por Gleice Couto

É. Acho que não é ele. Isso é o que eu penso. O que na verdade, não quer dizer muita coisa. São suposições vagas de uma mente confusa, de um coração relutante.

'Não é ele'. Escutei um sussurro de leve em meu ouvido. Desceu friamente pela minha espinha, alcançou minhas terminações nervosas e antes de sair, consegui compreender. Confesso que não queria entender isso.

A ignorância às vezes é bem vinda. É uma fuga, isso é certo. Mas quem não foge? Quem não passa para o outro lado, sorrateiramente, com cuidado para que ninguém o veja? Quem não diz uma verdade bem baixinho para que não minta, mas para que também não magoe a outra pessoa?

Enquanto meus ouvidos confirmavam o que eu havia escutado, minha memória voltava àquele momento como se comprovasse o que tinha acontecido. Mas a cada repetição da cena em minha cabeça, uma coisinha bastante teimosa tentava me dizer algo. E eu não queria escutar mais nada. Já tinha escutado coisas demais pra um único dia.

Mas essa coisinha era insistente, incomodava minha paciência. Não que precise de muito para que isso aconteça. Então, decidi dar um chance, um voto de confiança à essa coisinha. A saber: meu coração.

Eu sabia que o que viria dali podia ser enganoso. Podemos usar o coração para os nossos desejos mais vis. Podemos revestir qualquer ato ou pensamento errôneo, jogando a culpa nele. Sempre fugindo... 'Desculpe, agi sem pensar.' 'desculpe, segui meu coração'. 'Desculpe, fui impulsiva'. Por vezes, o coração é desculpa para nossa falta de capacidade de discernimento. Mas atenção. Eu disse 'por vezes', não ‘sempre’.

O coração também é capaz de fazer com que nas horas que 'escutamos uma voz' dizer que 'não', duvidemos. Afinal, como saber a real intenção dessa voz, não é mesmo? Ela pode ser apenas a minha baixo-estima fazendo o seu papel. Pode ser o meu medo camuflado. Pode ser qualquer parte minha que tem prazer em ser do contra.

Somente dando ouvidos ao coração podemos nos dar ao luxo de duvidar, mas não certos de que ele nos dará a resposta. Provavelmente ele não me dará resposta alguma. Somente fará com que eu pense que seja possível eu ter escutado errado o 'não é ele'. O que realmente pode ter acontecido. Ou não. - olha o coração se contradizendo, e colocando tudo novamente em dúvida. Começo a duvidar se fiz certo em deixar essa coisinha teimosa falar.

Não estou fazendo apologia para não seguir o coração, apenas digo que tenho que ter cautela ao fazer algo ditado por ele. As vezes que o segui cegamente, invariavelmente, não deram certo. Por outro lado, também tenho que olhar com desconfiança que essa 'voz' que vez por outra aparece.

A verdade é que só deixando o tempo agir é que verei quem estava com a razão. Bem, sendo ele ou não, eu quero que seja. E nem meu coração ou a voz têm haver com isso. Ou têm?


"Estreita é a casa de minha alma para que venhas até ela: que seja por ti dilatada. Está em ruínas: restaura-a. Há nela nódoas que ofendem o teu olhar: confesso-o, pois eu o sei; porém quem haverá de purificá-la? A quem clamarei senão a ti?". Santo Agostinho, Confissões.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Devaneio

por Keissy Carvelli

Sinto os cacos sob os pés
Espalhados, jogados sobre o chão
E a sorte diluída é o meu café da manhã
Cansada de seguir a pé, deixo a minha fé em suas mãos
Tiro o casaco, escondo o rosto
Desisto da expressão
E o mar não trouxe você pra mim
O mar esqueceu o caminho de volta

Perco o sono
Desfaço meus planos
Entrego a noite ao dia
Faço do sol escudo, da lua amiga
Da frente o verso
Do verso a rima

Escuto sons que não são meus
Água com sal desfaz o céu
Que há em mim
Soluços me interrompem ao meio
Quem eu sou
Seu devaneio

Tenho Que Me Controlar

Por Marcos Paulo

Tenho que me controlar por causa de você, pois tenho que segurar todos os anseios, vontades, fobias e verdades, mesmo que eu saiba que você é sempre pra mim.

Tenho que me controlar por causa da saudade que é conflitane, mesmo que tudo seja benevolente e o meu amor por você cresce a cada dia mesmo que você não me diga que me ama ainda.

Teno que me controlar por causa do coração, no fato de não ficar contando para os meus amigos que sinto sua falta ou que eu queira viver pra sempre contigo, mesmo que tudo o que se apresente pareça contrário ao que sonhamos.

Tenho que me controlar por causa de você, pois te amo com toda a força do meu coração e tenho a certeza de que temos o controle perfeito da situação.

Caminhos Invariáveis

Por Marcos Paulo


Podemos transformar todos os nossos sonhos em realidade, ou em um filme, na pior das hipóteses. Mas eu acho que mesmo num filme, onde procuramos expor somente o que achamos bom, não seria possível retratar todos os nossos sonhos. Ainda mais se você é aquariano como eu, que vive sonhando, mas com o pé no chão. Conheço muito aquariano que pensa que a vida é um show. Sim, a vida é um show, e a platéia é exigente, e tudo que aqui se faz, aqui mesmo se paga. Ou se preferirem: toda ação tem uma reação. Se você faz algo bom, repercute em algo bom, se faz algo ruim, nem preciso terminar o racioncínio... Mas acho que no meu filme, eu colocaria sim, coisas que fossem ruins também. Para que as pessoas pensassem que não sou perfeito, que erro e acerto. Mas as coisas ruins não são porque, como citei antes, fiz algo ruim. São para mostrar que mesmo com atrocidades e passagens não tão agradáveis, temos que tirar algo de bom. É assim que aprendemos e foi que meus pais me ensinaram. Escrevi isso tudo porque hoje não estou me sentindo bem. Não é nada relacionado à dores, mas é algo que repercutiu mal porque, infelizmente, eu fiz algo de errado e, agora, veio a repercussão ruim. Mas vou tentar, de qualquer forma transformar isso em coisa boa. Aí é que está a mágica: fazer algo ruim e conseguir transformá-lo em algo bom. Receita? Tirando algo de bom desta coisa toda ruim. Não é difícil. Já ouviram falar de arrependimento? Pois é, esse é o caminho. Caminho invariável quando se quer reverter o efeito de algo. E olha só, se eu fizer um filme sobre minha vida, farei questão de colocar esse "algo ruim", e no final, como em todo o filme, repercutirá em "algo bom"!

domingo, janeiro 14, 2007

Cada Ausência

Por Gleice Couto

Sua ausência se faz presente em cada pensamento, em cada suspiro, em cada respiração
Preenche cada gaveta vazia, cada estante empoeirada
Percorre cada corredor escuro, cada cômodo esquecido
Faz ressurgir cada fantasma meu, cada esperança desnecessárias, cada espera vã
E mesmo assim sua ausência é o que me aquece, me dá forças em cada situação
Reverte em presença, o afastamento e o espaço em branco, multicor
Expondo lacunas dispersas do meu amor

Sua ausência se faz completa em cada palavra, em cada movimento, em cada ação
Satisfaz cada fome de paz, cada sede de sabedoria
Supri cada lágrima gelada, cada sorriso penoso
Ocupa cada poltrona vaga, cada espelho quebrado, cada vaso trincado
E ainda assim sua ausência é o que me guia, me faz enxergar a luz onde há trevas
Decompõe em resíduos, o todo e a parte, em pleno
Suavizando o fel do meu próprio veneno

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Poeiras E Grãos

por Gleice Couto

Presença infinita em um realidade difusa
A nevoa me cega
E debaixo de meus pés,
Escorpiões tentam me acertar
Sentindo a textura da relva
Gota fria da beleza que foi removida
Da minha paisagem circunscrita
Vales cercados pela morte e pedras disformes
O sol me esquenta
E acima de meus olhos
Poeiras e grãos coloridos flutuam
Esperando respostas em sinais
A pergunta lógica de alguém longe da órbita
Perdida no quarto da memória
O espaço preenchido está aqui,
Não há falta não há luz, silêncio
E ao lado do que está vazio
O muro dos meus sentimentos se parte
Caindo no chão alguns pedaços crus e traiçoeiros
Roubado de um-único-somente-apenas jeito
Revelação do meu eu imperfeito

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Único Sentimento

por Gleice Couto

Olhos fechados
E a sensação que sempre estive comigo, aparece
Chega devagar
Peça prometida de uma única vida
O sorriso ilumina
Junto com a vontade de ter, de estar perto
Ao menos uma vez
Rir da minha certeza, talvez a única defesa
Suspiro calmo
Aos poucos, respiração levemente pesada
Dificulta a verdade,
A minha promessa, a sua única esfera
As mãos paradas
Perfeitas e firmes enlaçam o que é seu
Coração, corpo e alma
Rendição do ser, único sentimento a se ater

terça-feira, janeiro 09, 2007

24 anos

por Gleice Couto

Fazer 24 anos é estranho. Você começa a pensar em umas coisas nada a ver.

Primeiro, você começa a se achar no direito de dar conselhos, porque afinal você já é adulta. Você já passou por muitas situações e aprendeu em todas elas (você acredita piamente nisso), então tem certeza que está pronta para o que der e vier e que tem respostas pra tudo. Porra! Você tem quase um quarto de século! Você está crente que a sabedoria já bateu a sua porta e que você emana bom senso por todos os poros do corpo. Um guru, praticamente.

Segundo, você começa a atentar para os seus possíveis-futuros-pés-de-galinha. Não que você já tenha marca de expressão, ou alguma ruguinha sequer, mas só o fato de existir um Reniew (creme da Avon anti-rugas) para a idade de 25 anos, você fica tensa. Se uma mulher de 25 anos supostamente tem rugas para tratar, a de 24 também pode ter, né? Não, isso é exagero. Em 12 meses muita coisa pode acontecer. Não tem como deixar de ficar nervosa, entretanto, ao constatar que só mais UM ano e você vai estar podendo usar essa fórmula que promete juventude eterna. É de dar medo.

Terceiro, se você é uma mulher independente e sempre pensou em seu lado profissional antes de tudo, leva um susto quando um pensamento sorrateiramente invade sua mente: constituir uma família. É isso mesmo que você está pensando: achar o homem ideal (mesmo sabendo que ele não existe. Tudo culpa da Cinderela e da Disney), casar e ter filhos (adotados, que fique bem claro). Para uma workaholic isso é o fim do mundo. Cadê as trombetas? E os cavaleiros do apocalipse? Uma luz do além vem em minha direção.

Quarto, você era daquele tipo: topa tudo toda hora! Urruuuulll! Mas um belo dia, ou melhor noite, depois de uma balada maravilhosa, no dia seguinte não é você quem acorda, é uma versão gasta, amorfa que você não reconhece. Na verdade, você só responde a estímulos externos, é um ser sem vida própria. Virar a noite e no dia seguinte ir trabalhar? Há! Tá brincando né? The day after é traumático. Tudo dói, não só a cabeça de ressaca, mas tudo: da bolha no pé que o sapato fechado causou até o último fio de cabelo ainda duro de tanta chapinha.

Quinto, sabe aqueles seus amigos fodas, que você acha o maior barato? Pois é, eles começam a reclamar feito velho ranzinza. É falta de dinheiro, é falta de sexo... Puta que pariu! Você fica pensando se você também é / está chata desse jeito. Você, aí, vai em busca de um pessoal mais novo, mas logo se frustra. Eles têm o mesmo tipo de reclamação. Então, definitivamente, você se sente uma velha ao pensar que na idade deles não fazia pouco tempo que você tinha descoberto a farsa da cegonha.

Sexto – e acho que esse é o pior -, você começa a entender a sua mãe, a concordar com ela e, pasmem, até age igual a velha! Isso não é normal. É contra a natureza do universo. Pais e filhos não se dão bem. Pais e filhos falam um dialeto diferente não reconhecido por nenhuma das duas ‘tribos’. Entender a linguagem de uma pessoa com o dobro da sua idade e ainda achar que ela está certa, no mínimo, não pode ser um bom sinal.

O bom mesmo é não ficar pensando muito. Não adianta. A idade vai chegando, você vai ficando menos topeira, virando um maracujá de gaveta, montando uma creche com os seus filhos, se acabando na noite mal dormida, continuando com os mesmos velhos amigos, ficando exatamente igual a sua mãe... No fim, acaba tudo do jeito que começou: pensamentos nada a ver resultando em ações nada a ver. Vai dizer que não é melhor relaxar?

Tem hora que a gente se pergunta....

E então a gente começa assim, sem saber muito bem o que dizer, temendo usar palavras repetidas, e parecer piegas, ou coisa que o valha!
Nada aqui foi premeditado, bem como este texto, mas aposto que os opostos presentes neste blog se atrairam para fazer de alguns pensamentos, um sentimento sólido, devaneios constantes em escritas certeas e erradas nas horas que bem entendemos! E eu, o que faço nisso tudo? Apenas sou a parte de um todo, que se encontra numa coisa só!
Os pronomes EU e ELA já eram conhecidos, já o ELE apresentou-se agora no meio de tantas frases, e agora pouco importa seu emprego! Somos nós, aqui, tentando algo, sem saber exatamente o que!
E sem mais, apenas ESTAMOS! Talvez fazendo alguma diferença.


Keissy Carvelli

Bem vindos!

Sejam bem vindos ao nosso blog. Não vão encontrar nada de extraordinário aqui, apenas três pessoas que amam traduzir em palavras o que pensam e sentem.

Aproveitem e comentem! ;oP

Gleice Couto, Keissy Carvelli & Marcos Paulo