sexta-feira, outubro 26, 2007

R.E.M

por Keissy Carvelli


Se tem algo que me deprime é esse tempo de chuva. Acho que é a coisa mais deprimente que existe em tudo o que há no mundo. Basta as gotas de chuva fria baterem na minha janela, e aquele cheiro de terra molhada perambular pela casa, que começo mesmo a me sentir assim, deprimida pra burro, numa solidão astronômica que me chega a enfraquecer a pele.
Não sei se a minha solidão é um estado permanente, ou se ela é uma invenção do meu subconsciente para tornar tudo mais melancólico, porém, com os trovões e o céu escuro e carregado, ela se expressa pra valer.
Existem ainda aquelas músicas típicas para o momento. É simples: existem discos para o verão, para os finais de tarde ensolarados, para os finais de semana, para as madrugadas, e aidna existem esses tipos de discos para dias assim, de chuva e solidão.
A gente pensa que não, mas faz muito sentido. Ninguém ouve samba em dias como esse. Se eu colocasse algo do Seu Jorge para ouvir eu poderia me contorcer inteira de tanta contradição. É como colocar REM num sábado a tarde de muito sol e calor. Soa ridículo.
O mais deprimente de tudo isso é que todo o mundo, nesses dias, assiste milhares de filmes com o respectivo namorado, ou namorada, caso seja. Todos se entopem de chocolate, pipoca, cenas clichês, beijos e toda aquela melação. E eu queria mesmo fazer parte desse "todo mundo" que fica ainda mais idiota por fazer esse tipo de coisa. Eu queria ser idiota nos dias de frio e chuva,com namorado, e chocolate, e filmes, e clichês, e não uma idiota com umas palavras escritas à mão.
Tá, que eu não fosse essa idiota com todas essas coisas, mas que ao menos eu pudesse sentir de fato as vontades que tenho, e que pudesse dizer que gosto mesmo, e que, apesar de parecer besta o suficiente, é verdade o bastante para ser dito.
Não, nada pode ser dito, nem ao menos sentido de fato. Eu sempre me meto em enrascadas mesmo. Acho que gosto mesmo daquilo que não posso ter e deve haver alguma explicação freudiana para isso, ou de qualquer outro maluco desses que estuda essas nossas maluquices pra tentar achar alguma explicação.
Não consigo sequer deixar que alguém goste de mim primeiro e isso é sério. Parece que sempre tenho que convencer a tal pessoa em questão a gostar de mim. Isso é um bocado deprimente. Eu deveria mesmo é não gostar de mais ninguém, a vida inteira.
Eu deveria me tornar uma daquelas cretinas filhas-da-puta que não gostam, nem amam e só conquistam por ai algumas pessoas para a satisfação física. E pronto. Eu deveria mesmo deixar de ser essa estúpida que lê um livro e começa a escrever bem parecido com a personagem.
Mas, o que eu estava falando mesmo é do quanto eu me sinto sozinha nesses dias de chuva e frio. E acho que vou me sentir assim pra sempre, pro resto da vida. Sou bem capaz de me trancar num quarto num dia de chuva mesmo com alguém me esperando na sala. Ou não. Nunca teve ninguém me esperando na sala.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Dobradura

por Keissy Carvelli

Isso é o tipo de coisa que precisa ter muita disposição mesmo pra fazer, ainda mais um tipo como eu, desprovida de toda e qualquer paciência. Um troço desse precisa ser feito por um objetivo maior, uma força que você tira sabe-se lá da onde, caso contrário na primeira dobra você desiste.
Primeiro tem que cortar o papel certinho, e aí já começa a coisa chata. Eu sempre erro a medida, ou corto torto, ou algo parecido. É a falta de paciência misturada com a falta de cuidado mesmo; o fato é que pra mim quase tudo sempre está bom, não ligo muito pra perfeição.
Depois de obter um papel exatamente quadrado você começa a seguir os passos da demonstração, e pra piorar a coisa ainda está escrita em inglês. As imagens salvavam um pouco, mas não pude deixar de recorrer ao dicionário. Por isso digo que esse troço tem q ser feito com disposição.
Desisti por horas, e retomei o ritimo lá pelas tantas da madrugada. A cabeça estava quase fundindo, aquilo estava me aporrinhando o saco, eu juro! Mas, eu já podia imaginar a satisfação de dizer: eu fiz, e ainda imaginar o sorriso do lado de lá achando tudo muito engraçado. Afinal, quem é que no mundo inteiro faria algo do tipo só pra arrancar um sorriso?!
Estava tendo 3 filhos japoneses, mas tentava controlar o nervoso, e por vezes quase amassei tudo e fui dormir. Porém, valia a pena.
Duas horas depois eu vi aquela coisa toda tomando forma, e tomava a forma certa, como descrita na demonstração. Puxa, aquilo era mesmo orgasmico.
O troço tinha mesmo que ser feito com muita vontade, e vontades em mim é o que não faltavam. E depois dessas duas horas, alguns quilos de paciência e neurônios queimados eu posso dizer que tenho mesmo um Caracol. Não aquele do outro lado, cheio de expressões bonitinhas pra caramba, de sentimentalismos e irreverências. Mas eu tinha um Caracol, e isso já era um bom começo!


sexta-feira, outubro 19, 2007

Distorção

por Keissy Carvelli

4:12 da manhã, o silêncio ensurdece meus ouvidos e os olhos queimam de sono. Eu deveria mesmo já estar sonhando com qualquer besteira por ai, pronta pra acordar mais cedo amanhã e estudar: os meses seguintes prometem uns vestibulares filhos-da-puta!

Levei meu pai para pegar um ônibus rumo a São Paulo, coisas da Prefeitura onde ele trabalha. Gostaria de ir junto, mas eu ficaria por lá. Sempre existe algo/alguém que me faz querer sair daqui, e isso me soa um tanto quanto "novelesco".
Na volta resolvi apertar o botão do rádio, gosto mesmo das músicas que tocam madrugada à fora, são sempre antigas e de um tom melancólico mesmo que tenha guitarras e distorções. Dito e feito: uma música do Bon Jovi que eu adoro, e que, por coincidência talvez, eu lembrei ainda essa tarde.
Tirei as mãos do volante e vim cantando- ou tentando- já que não sei muito da letra. Senti-me como num filme de Hollywood, onde, na última cena, a mocinha pega seu conversível, coloca um rock ´n´ roll e se arrisca pela estrada, sem rumo algum. Não estava num conversível, e tinha um rumo bem certo: a minha casa, entretanto o rock ´n´roll fez-se presente!
Mandei uma ou duas mensagens. Ainda me sentia sozinha.
Quis gritar, afinal, eu estava mesmo sozinha. Poderia fazer qualquer coisa que eu quisesse: sair com o carro, encher a cara, fumar no meu quarto, andar nua, trazer quem eu quisesse pra casa, pular na cama, ou simplesmente cair no lençol verde cheio das minhas vontades.
Em todos os casos, vou dormir, porque amanhã é um dia qualquer, exatamente como os outros!E a propósito, não fumo mais diariamente!

sábado, outubro 13, 2007

Sob efeito

(por Keissy Carvelli)

Por quantas vezes mais terei que dizer: saia daí?
Por quantas vezes mais terei que reforçar a idéia de que tudo isso não é pra você. É tão pouco perto da sua sensível forma de enxergar os fatos e as complicações dessas vãs filosofias.
Meus braços forçariam sua retirada disso tudo; meus olhos provocariam seu riso sem qualquer esforço; e o esboço do sonho tornar-se-ia um desenho das mãos juntas, dos sorrisos e dos nossos extremos equilibrados numa só insanidade.
Já não sei como sair daqui, e numa verdade esclarecida: não quero sair de lugar algum.
Os meus sonhos sempre são certeiros, cheios dos seus detalhes e daquilo que vou sentir, não existem erros. Para que fugir, então?
Eu sei, menina! Nada há de ser feito agora. Você tem seus medos, seus amores e suas esperanças. Eu...ah, eu! Eu não tenho nada. Absolutamente NADA! E de nada me envergonho.
Não sofro mais, não choro mais, não amo mais. Do que posso ter medo?! De amar?! Ah, falsa hipocrisia. Eu amo essa coisa toda de conquistar, apaixonar, amar e sofrer. É quase um ciclo vicioso, no duro.
Por que eu, justamente eu, teria medo de algo assim?! Apaixonar-me por você?! Ah, tão fácil, tão irreversível, tão inconseqüente, tão inevitável.
Idealizar? Isso se torna típico neste meu mundo cheio de suas fantasias e alegorias...Ver-te sempre rindo, e com suas expressões singulares..ah! Isso não! Eu não criei, foi visto antes mesmo da imaginação tomar lugar do meu sono.
Confesso, no duro, que já não devo evitar. Aí está a prova, mais uma vez, de que caí nesse miserável truque do coração idiota que se apaixona por quem não deve.
O álcool toma conta dos meus dedos, das letras, e das poesias que eu tento reproduzir em forma culta e intelectualizada. Um belo truque.
Quem precisa de poesia quando se fala de paixão? Ela sempre soará brega, por melhores que sejam as palavras e metáforas escolhidas.
Eu sempre serei brega e clichê. Já me acostumei, e, no duro, não me importo a mínima.
Não tento mais esconder, isso soaria ainda mais ridículo, e mesmo que eu goste de assim soar, não ficaria convencional.
Mentir pra mim mesmo?! Ah, por Deus!!!! Quanta estupidez!
A minha paciência é farta, assim como a minha vontade que me atormenta toda maldita noite de insônia programada.
A minha paciência não te espera, mas te quer! A minha impaciência não diz todas as verdades, mas também não esconde todas as mentiras. A minha paciência é um infinito particular depositado em baixo do travesseiro ao qual me entrego agora!


.escrito sob o efeito do alcool e das vontades.