terça-feira, fevereiro 27, 2007

De Costas

por Gleice Couto

Olhos não acostumados a ver
Lacrimejam diante da luz que cega
Acesso a nova realidade tardia
Desfocada, invertida
De costas para a porta,
Encaro a parede branca
Não enxergo além
Apenas imperfeições não planas.


* Inspirado no MARAVILHOSO texto de Stephen Kanitz, "Observar e Pensar". Para lê-lo, clique aqui. Vale muito a pena. ;o)

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

...eu vou te sonhar comigo.

...eu vou te sonhar comigo.



Por Keissy Carvelli

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Liberdade Parcial

por Gleice Couto

Distância
Longe dos olhos a solidez se esvai
Meus dedos deslizam acariciando sonhos que corrompi
O meu baú já não está mais completo
Apenas descoberto
Sem manto
Sem amparo
Perdido em algum cômodo da casa
Vazia
Abandonada
Em vãos de uma realidade leviana
E lama
Escorregando no caminho que sempre usei
Na estrada não-definida
A liberdade parcial de toda uma vida

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Chegou a Turma do Funil

por Keissy Carvelli

O sol já nasce com um ar diferente, a "turma do funil" se reune, escolhe o melhor humor, busca a mais intensa alegria dentre tantos motivos para chorar, e deixa o som da bateria lavar a alma.
O samba no pé descarrega os pessimismo e desafetos, a velha marchinha traduz um sorriso de porta bandeira atento a todos os seus movimentos, em que o som vale mais que a ação, a ação mais que o coração, e a folia...bem, a folia é a esperança tecida em pequenas notas de um instrumento de sopro qualquer.
Não importa como é a "cabeleira do zezé", muito menos se "ele é", a "maria sapatão" pode ser Maria ou João, de dia ou a noite; você pode pensar que "cachaça é água", se ela vem do alambique ou do mineirão, tanto faz; a pipa do vovô pode até não subir mais, nada importa em cinco dias onde o brasileiro é mais nacional, onde o estrangeiro é mais nacional, onde o Rio é mais colorido, onde São Paulo não é um buraco negro, onde a Bahia é sua própria identidade, onde eu sou mais eu.
Onde o "Tudo" é tocado em tambores de percussão, em ritmo frenéticos, em solos coletivos de um país inteiro entregue a nossa maior paixão.
E eu?! bem, eu só paro na quarta-feira, onde os pecados são absolvidos, e todas as fantasias são guardadas dentro do ármario.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Hora de Mudar

por Gleice Couto

Hora de mudar,
Fechar um livro,
Abrir outro.
Páginas em branco,
Em pouco tempo com palavras.
Minha caligrafia disforme me impede ver o que está a minha frente.
Diante de mim, a apenas alguns centímetros.
Sentimentos invadidos,
Palavras longes, mal apagadas.
Enquanto isso, ainda tento decifrar o que acontece.
Bobagem.
As mudanças são um início sem fim.
E eu apenas comecei a minha agora.

sábado, fevereiro 10, 2007

Glorioso Reinado

Por Gleice Couto

Não posso fitar os seus olhos
Não posso tocar os seus pés
Não ainda...
Então, desligo o interruptor
Sinto sua luz
Vermelha...
Verde...
Violeta...
Branco... O meu pranto
Sem lágrimas
O aroma doce
Ao longe, todas as flores
Alegria infinita
Súbita...
Úmida...
Mas não muda...
O louvor dos servos
No Glorioso Reinado
Em novos céus
Em nova terra
A nossa espera...
Desconhecida
Pela vida eterna

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Feixe de Luz

Por Gleice Couto

Chão de barro...
Vermelho
Revestido de pontos verdes
Luzes foscas pontilhando diante de mim
E a folhas se espalham
Junto com uma melodia em minha cabeça
Tocando incessantemente
Notas desconexas
Sons fora do timbre
E a cada agudo
A percepção muda
Flutua
Símbolos dispersos
De um lado que não acompanha
De uma personalidade não difusa

E o que era apenas uma tarde
Com pedaços de minhas várias faces pelo ar
Transforma-se em poesia
Palavras despretensiosas
Apenas rabiscos à mão livre
Presos em letras
Disformes pelo tempo
Gastas pelos erros
Jogadas a esmo
Em linhas azuis
Lidas de trás para frente no espelho
Onde também vejo sua presença
Em cada vida, em todo suspiro
Um feixe de luz pequeno

Na foto... Lu, Lis e eu, em Goiânia. Tá vendo o papel na minha mão? Nele estava esse rabisco meu. Tinha acabado de escrevê-lo :o)

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Era uma vez uma garotinha...

por Gleice Couto
[ “Once upon a time there was a little girl. Once she was mine in my heart the only one. I wonder where you are. I know you’re somewhere in me. I can see your smile when I close my eyes.” – Marie Fredriksson ]

Era uma vez uma garotinha.

Ela vivia em um mundo não conhecido por quase ninguém. Um lugar a parte, distante, lindo, mas somente seu, e de alguns poucos que podiam desfrutar de tudo o que havia ali com ela. O mundo era repleto de fantasia, onde a realidade era cinza e tinha cheiro de ferrugem.

Ela morava em um castelo. Lá moravam muitas pessoas... Dentre eles, o Rei e a Rainha do reino da garotinha. Ela era a princesa. O castelo era enorme, com muitos quartos e portas. As portas podiam levá-la onde quer que quisesse, mas por algum motivo desconhecido, a garotinha nunca as tinha aberto.

Ela sempre teve tudo o que quis, sempre conseguia absolutamente tudo. Bastava um estalar de dedos. A garotinha tinha coisas, amigos, carinho... Tudo mesmo. Nem o mais importante lhe faltava: amor. Amor dentro de si. Amor pelos outros.

Havia, entretanto, um problema: ela não sabia demonstrá-lo. Achava que era fraqueza mostrar o quanto se importava com os outros. E ela não queria parecer fraca. Não mesmo. Princesas não podem ser fracas.

Por muito tempo, reinos vizinhos, que ela nem sabia que existiam, a condenavam por seu comportamento. Chamavam-na de fria. “Que princesa sem sentimentos!” – alguns diziam. “Nunca vai conseguir ser uma rainha de verdade!” – outros bradavam.

A garotinha não se importava muito com esses comentários. Sabia que as pessoas que diziam isso, na verdade, não a conheciam. Ela sabia que não era assim. Ela amava todos, somente não o dizia.

Um dia, porém, uma senhora idosa, corcunda e com trajes negros, chegou ao seu reino. Ela nunca a tinha visto por ali. Isso a assustou um pouco. A senhora chegou sorrateiramente e sem que ninguém percebesse, levou algumas pessoas com ela. Uma delas era o Rei.

Foi tudo tão rápido que a garotinha não teve tempo de perceber que esquecera de dizer algo importante ao Rei.

Ela não disse que o amava.

Ela não teve a oportunidade de lhe dar um beijo de despedida. E agora, não poderia mais fazê-lo. O Rei tinha ido embora, nunca mais tornaria a vê-lo.

O Rei sabia que ela o amava, mas não o tinha escutado. A garotinha sabia que o amava, mas não o tinha dito.

Então, a princesa percebeu que, na verdade, ela nunca teve tudo. Faltava-lhe algo essencial: humildade.

Porque é preciso humildade para confessar que há alguém mais importante que você em sua vida.

A princesa aprendeu sua primeira lição e nunca mais deixou de dizer ‘eu te amo’ para aqueles com quem ela realmente se importa.

Atualmente, a garotinha não é tão garotinha assim, mas ainda é uma princesa. E tem certeza que, com essa lição, vai se tornar uma grande Rainha.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Trajeto

por Keissy Carvelli

O último suspiro soa agora como a mais amarga derrota, penetrando cada pedaço do meu corpo sem pedir espaço.Instala-se num triste olhar que lanço para o espelho refletindo minha vaga imagem, onde o TUDO resume-se num dia só.
Apego-me a crença da inexistência do acaso para não enlouquecer, forço gestos aleatórios intimidando a escuridão de alguns pensamentos, que na contramão, seguem atropelando os otimistas de plantão.
Sujo o rosto, e não nego, a esperança exaltava alegrias ilusórias, e fisionomias conhecidas; o resto é então o que me resta, as noites são as minas das minhas idéias sem qualquer fundamento, e o frio é a ausência do calor latente.
O papel implora por linhas escritas, por desapegos e desabafos, mas nem uma palavra é dita, o final da cena está errado e fica atravessado na minha garganta como um desfecho mal elaborado.
Sou cúmplice e crítica de meus próprios erros, meu destino é incerto como um samba enredo longe, onde todos começam junto sem saber a hora certa de parar. Metáfora.
Péssima escolha a minha, tentar descontar tudo numa frase vazia, péssima escolha a minha escolher e acabar não sendo escolhida!

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Trechos de mim

por Keissy Carvelli

A chuva cai dizendo a hora exata de dormir, mas o sono é pesadelo e insiste em fugir de mim. Se deito, sonho com minhas esperas, meus medos, e desejos; acordo sem saber se foi real ou não, coloco os pés no chão frio me certificando da fútil inexistência da verdade.
A consciência trabalha a favor de meus devaneios, e jé não suporto essa louca espera pelo dia seguinte, pela vida nova, pelo beijo perfeito, pela pessoa certa, pela música ímpar, pelo banho sutil, pela alma lavada.
Distorço fatos e vivo de alucinações desmembrando cada pequeno espaço numa estação completa de realidades vivas e vividas, das quais nem sei se me encaixo. Não discuto, nem escuto, não converso.
É cada segundo preso numa interminável solidão tão sólida e tátil, uma saudade do que não tive, uma infeliz felicidade dissolvida entre dias, e horas e suspiros. A minha ausência, minha essência, e todos meus sentidos perdidos por aí, em algum beco fechado, escuro, fedendo a mofo ou coisa parecida.
São as sombras de toda uma história berrando ao pé do meu ouvido frases mórbidas sem qualquer positivismo, são os monstros na minha estante fazendo pose de passado, querendo reviver num presente para me assombrar novamente num futuro. Chega.
Tiro os objetos pontiagudos de perto, as fotografias, as lembranças e memórias desnecessárias, escondo em algum lugar distante até eu descobrir a forma correta de lidar com tudo isso.