por Keissy Carvelli
O sol acabava de nascer e o mundo já girava, as pessoas corriam sem chegar a lugar algum; os passos acelerados imprimiam a necessidade do tempo, da falta de calmaria. Os rostos tão diferentes não se encaravam, as sombras não se trombavam, e por um instante senti alívio em estar bem ali, no meio de tantos desconhecidos. Ninguém se importava com meu passado, ninguém estava interessado nos meus sonhos, nas minhas dores, na minha genealogia. Ninguém se resumindo a todo o mundo que por ali passava.
Eu vestia minhas calças jeans, meu tênis verde e já poderia desenhar em mente as ações compassadas e estereotipadas do “sobe-desce” nas escadas, do entra e sai do metrô. Quanta gente! Quanta gente!
Olha ali, quanto medo! Quantas frases perdidas nesta multidão, nesta confusão! Quanto barulho! Não ouço as folhas das árvores batendo contra o vento! Não há tantas árvores assim! Olha ali, gente caída no chão, crianças contando moedas e migalhas! Olha ali! E eu estou aqui, andando de estação em estação, ouvindo o silêncio entre as pessoas, as sirenes gritantes dos carros que se movimentam sem cessar. Estou aqui criando coragem para partir, destruindo minhas próprias barreias, saltando de vez em vez para não cair na rotina.
Estou inerte observando os novos rostos que acabo de conhecer, agora são reais, falam, gesticulam, brincam. Possuem digitais, traços, ironias; cantarolam brincadeiras e sabem bem sobre meu lado oposto.
Estou novamente entre a multidão e tudo se perde mais uma vez, os ouvidos nada escutam, os pés estão cansados, mas a vista é bonita. As luzes acendem, mas ainda há gente no chão. Ainda há experiência de pés sujos e cicatrizes nas mãos, Ainda existem tantos cantos que nem ao menos imagino. Ainda há tanto de mim perambulando por entre os vãos.
O céu se envolve nos vários tons de escuro, misturando-se entre cores e luas, e é assim que eu gosto. Deixo meus olhos percorrerem pelo vidro, atingindo em cheio os pensamentos do lado de fora, e entre uma estrela e outra vou distraindo as unhas roídas com minhas conversas interiores.
A cidade passa por todas as vigas deste mesmo vidro ficando para trás com suas confusões e imensidões; os prédios altos me dizem adeus e vão arranhando o céu, assim como minhas retinas sonolentas. Vai ficando tudo para trás...não sei se me levo, ou se me deixo assim...vai ficando tudo para trás.
Nostálgica, vou sonhando até que a mente pare de trabalhar, relembro dos últimos instantes e já sinto falta. Sinto mesmo falta de quem conheci, das calçadas, do ar quase poluído, mas tão cheio de liberdade. Vou sentindo saudade nos quilômetros seguintes, e mais saudade, mais saudade, mais....
sábado, agosto 25, 2007
Onomatopéias reversas
Postado por
Equipe Rabiscos À Mão Livre
às
11:37 PM
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