sexta-feira, janeiro 19, 2007

Abramos Os Olhos

por Gleice Couto

Já faz um tempo que a idéia desse texto de hoje está na minha cabeça. Por muitas vezes o adiei, como se esperasse que a idéia tomasse forma, amadurecesse em minha mente. Só que agora, diante do ocorrido nesse último fim de semana, encontrei o momento propicio para ele.

Na verdade, o tema do texto surgiu quando passeando por Fotologs da vida, li em um deles, a pessoa se dizendo revoltada com a falta de segurança no Rio, pois um amigo dela tinha sido alvo de um assalto em seu carro, na Barra da Tijuca.

Não tiro o direito da pessoa estar indignada, mas isso ficou na minha cabeça, porque muitas vezes só percebemos que algo existe quando acontece conosco ou com alguém próximo. E quando isso acontece, tudo o que sabemos não passa de superficialidades.

Porque falar da criminalidade quando você mora de frente pra praia em um apartamento de 200m² é fácil, muito fácil. É mais fácil ainda, eu estar aqui escrevendo sobre violência quando tenho um ótimo PC, uma ótima casa e pago uma faculdade cara.

O difícil é você conviver com ela 24 horas por dia, 7 dias por semana, 12 meses por ano. E essa realidade não está muito longe de você, ou de mim ou de qualquer um. Basta abrir os olhos e ver que em toda esquina há uma comunidade, há uma favela.

Repare bem que você verá essas pessoas de quem falo, que diariamente lutam para conseguir o direito de apenas viver...Viver.

Abaixe o vidro fumê do seu carro importado quando passar por um lugar carente. Repare em cada pessoa que está ali, repare em suas roupas gastas pelo uso, em suas feições cansadas, em seus rostos com a expressão dura de quem a cada dia vive em uma guerra interna, em busca de um pouco de dignidade.

Compre um apartamento com vista para a favela e sempre que você for admirar a paisagem, perceba que há gente vivendo em casa de alvenaria, sem rede de esgotos, sem o mínimo de condições de higiene, que fazem sua necessidades fisiológicas em buracos feitos no chão, que dividem um cômodo com uma dúzia de pessoas.

Não vire o rosto para o lado oposto quando ver na rua alguém pedindo esmola. Olhe essa pessoa bem nos olhos e veja o seu próprio reflexo nela, pois ninguém está livre de um dia estar ali, ao seu lado, dividindo suas esmolas e sua ausência de esperança.

Não finja que as crianças que estão na rua não são de sua responsabilidade. Elas não estão ali porque querem, estão ali porque vivemos em uma sociedade de oportunidades desiguais, onde nem sempre aquele que se esforça e corre atrás, é o que vence, onde as dificuldades se fazem tão constantes que é impossível não acabar cedendo a falta de opção.

Como disse anteriormente, não sou muito diferente de quem está lendo esse texto ou de quem reclama por segurança pública quando mora em um condomínio fechado de um bairro nobre do Rio de Janeiro. Somos todos abastados e vivemos uma realidade, se é que se pode chamara assim, que só uma minoria tem acesso. Pensemos juntos, então, analisemos o que acontece ao nosso redor, apontemos saídas e opções alternativas para que de algum modo façamos a nossa parte.

Abramos os olhos. Aceitemos a realidade que está diante de nossos narizes, mas que por hipocrisia ou vergonha nos fazemos de cego e não a enxergamos.

E pensar que isso tudo poderia ser resolvido com educação. Somente isso: educação.

Educação na família. Educação na escola. Educação para uma toda vida.

Um comentário:

Equipe Rabiscos À Mão Livre disse...

jah li tantas vezes esse seu texto no seu flog..e agora aki li mais uma vez..pq ele diz td o q eu realmente penso.
e isso basta

bjuuuuuuu
keissy carvelli