sexta-feira, julho 13, 2007

Estúpido diário

por Keissy Carvelli

Meu propósito não era despejar aqui tudo aquilo que anda preso, relutei, e só eu sei o quanto, porém não vejo outra saída. Confesso que deveria estar escrevendo tudo isso num diário qualquer, numa agenda, num velho caderno, ou num pedaço de folha, porém tal ato significaria uma exposição prestes a ser lida por um dos membros de minha casa, e eles definitivamente não precisam saber o que eu penso, logo, existindo e precisando, faço deste canto um refúgio quase secreto, e dúvido que alguém vai perder tempo lendo estas previsíveis besteiras do meu interior, do meu egocentrismo.
Aviso logo que não usarei de nenhum recurso linguístico, nada rebuscado, nada culto, tampouco poético, tomo o posto de desespero e entrego palavras sem qualquer domínio sobre elas, e vou assim, falando tudo o que me alivia. E é por isso que, às 02:35 de uma quinta-feira fria me deparo diante de um computador e muitos lamentos.
Nos últimos dias me vi perdendo muitas das coisas que conquistei durante meus 18 anos, perdi minha liberdade parcial, minhas máscaras, minhas quase mentiras, e ainda deixei escapar pelos dedos toda a confiança depositada em mim. Perdi, assim, como num passe de mágica. Em 2 minutos fui apresentada ao inferno emocional sem nem ao menos escolher se gostaria ou não.
Custo a acreditar que tudo tenha acontecido de fato, mas a indiferença diante de mim não me deixa esquecer, fui pega, tiraram minhas armaduras e jogaram sal sobre todas as feridas.
Desde então tudo o que tenho feito é pensar, ler algum livro, ouvir música e ver filmes que por algumas horas me distraem, levando minha cabeça distante dela mesma. A minha voz já não ouço mais, toco violão sem muita vontade e num tom muito baixo, as músicas feitas são melancolicas, mas com uma ponta de esperança, traçando um lindo paradoxo. Meus olhos fitam cotidianamente o chão claro, e quase pude esquecer das feições de reprovação vindo ao meu encontro.
As lágrimas as vezes correm, outras ficam presas bem ao meio da garganta, causando uma aflição desesperadora; meu estômago rejeita certas refeições, e fermentam com qualquer notícia nova. Já não tenho vontade de conversar, e escrever me cansa. Sentir também me cansa.
Vejo então tudo ao meu redor funcionando normalmente, as pessoas aproveitam suas férias, saem, dançam, bebem, riem -faz um bom tempo que não dou uma daquelas risadas gostosas-, uns seguem seus planos traçados e vão atrás de suas vidas, enquanto eu apenas penso se vou sair ilesa dessa.
Não me encaro no espelho, tenho medo de sentir pena daquele rosto que não esconde a melancolia idiota, tenho medo, ainda, de ter que assumir que talvez eu não possa dar um jeito nisso. A armadilha me pegou como um rato é pego na ratoeira, e sem esboçar nenhum ruído eu vou tentando me livrar sem saber ao certo por onde.
E parece que tudo acontece de uma só vez, já não tenho certezas para me prender, não tenho aquelas seguranças das quais eu costumava me esconder, me apioar. E no meio de tudo isso existia uma única coisa que me fazia sentir bem, me aliviava, mantinha minhas rezas noturnas, meus sonhos mais leves....era um tipo de sentimento que me mantinha sonhando, sorrindo, e compondo certas canções de amor. Era o tipo de sentimento que não foi abalado, que se mantinha ali, forte, concreto, certo do que era realmente certo, e quando tudo estava uma merda gigantesca era neste sentimento que eu pensava e tinha absoluta certeza de que estava no caminho.
O que acontece é que num momento, como este, sinto que estou perdendo aquela minha certeza; sinto que estão se perdendo de mim, que me deixaram sozinha num oceano sem horizontes -cara, isso ficou muito brega-. Sinto que aquele ponto distante de meio sorriso pode estar seguindo sua vida, e desta vez sem eu estar presente, e isso nunca me fez tão mal quanto agora. E o drama todo é que eu, na minha miserável distância, não tenho nada a fazer.
E sabe, eu não quero perder, e por isso me comporto como uma absoluta idiota possessiva; cometo erros que tornam tudo mais difícil, e não tenho a capacidade de estar lá para quebrar todo o clima com uma piada imbecil, com uma graça idiota. Eu não consigo fazer nenhuma graça idiota.
Eu não quero perder aquilo que me mantinha o brilho, eu não quero perder a cara de boba, eu não quero perder a única coisa boa que estava acontecendo. EU NÃO QUERO PERDER!!!!!
Tive, até o meio deste ano, os melhores momentos de toda a minha vida, vi estrelas deitada na grama, ri de besteiras ditas de madrugada, aprendi a fazer o melhor strogonoff do mundo, fui às melhores festas com as melhores pessoas, arrisquei meus medos, rompi princípios, gostei dos novos princípios, conheci pessoas incríveis, disse verdades olhando nos olhos, senti o coração saindo pela boca, senti minhas pernas trêmulas, perdi a respiração, vi o filme perfeito com a pessoa perfeita -pra mim- , realizei planos com detalhes, esperei, consegui, senti coisas inexplicáveis, conheci o melhor sorriso, o melhor entrosamento, a maior conquista, a melhor junção.
É...talvez eu tenha descoberto o melhor dos meus 18 anos, e não me arrependo de nada, nem por um único segundo. Aprendi a viver.
Essa nostalgia ainda me mantém um pouco melhor, mas esta idéia de futuro incerto acaba comigo, de verdade. Posso ter perdido tudo, liberdade, dinheiro, confiança, respeito, individualidade; posso ter perdido meu mundo interior no qual eu vivia muito bem, obrigada, entretanto tudo isso eu recupero em novas versões, em novos formatos. Já você.....esse é meu medo. As pessoas seguem suas vidas, e o caminho de volta nunca pode ser feito, são sentimentos irreversíveis, e meu medo está bem aí. Perder você. É neste pronome, em segunda pessoa, que me torno totalmente frágil, totalmente atônita, infantil, covarde.
E nada posso fazer. NADA!!! NADAAAAAA...pela primeira vez na vida não tenho um bom conselho pra mim mesma, não tenho um plano, uma espera, uma visão! Pela primeira vez na vida estou numa puta escuridão sem enxergar um palmo diante do nariz, E PELA PRIMEIRA VEZ NA VIDA EU NÃO TENHO NADA A FAZER, A NÃO SER ESPERAR!!!!!
Como eu odeio esperar, como eu odeio ter que me basear e me projetar numa felicidade espontânea lá no futuro. Puta que o pariu, eu passei a vida inteira projetando meu futuro, e fui feliz, mesmo assim, no presente. Vivi 6 meses inteiramente no presente, visando sim o ano que vem, mas aproveitando cada maldito de um segundo, e agora tudo o que eu tenho é um futuro incerto. Tudo o que eu tenho é você no incerto, eh a distância de todos que estão vivendo suas vidas, enquanto eu me encontro sozinha num quarto vazio cheio de lembranças, e cartas e um estúpido computador para o qual eu conto minhas neuroses.
Tudo o que eu tenho é esse velho violão que soa as mesmas notas, as mesmas melodias...tudo o que me resta é essa televisão que apenas me distrai da merda que está minha vida.
Veja só, minha prima está mudando, e dessa vez não é para a cidade ao lado. ELa está indo construir a vida dela em Sâo Paulo, numa ótima faculdade, ao lado de pessoas maravilhosas....ela, que sempre foi a minha protegida mesmo tendo a mesma idade, está indo se virar sozinha, está crescendo. ELa que sempre morreu de vergonha de tudo e sempre pedia minha ajuda para tudo está indo viver sozinha numa cidade enorme, e ela vai saber se virar. ELa não precisa mais da minha proteção, ela não precisa da minha maturidade, não precisa que eu ensine as coisas, ela simplesmente está fazendo o que eu gostaria de fazer.
Meus amigos estão bem, obrigada. Continuam bebendo, rindo, dançando, mesmo que na minha ausência; eles não devem parar por minha causa...o mundo não pode parar porque estou fudida.
Está tudo tão desigual por aqui, enquanto lá fora tudo parece o mesmo. E eu continuo presa dentro de mim, dentro dos meus devaneios, das minhas melancolias, dos meus excessos, da minha falta de tudo, da minha hipócrita espera por dias melhores.
O que me faz acordar, por hora, é a terapia semanal com uma psicóloga desconhecida, da qual eu me agarro na vaga tentativa de encontrar uma forma nova de lidar com as coisas.



[não tente ler tudo, além de estar porcamente escrito não vai te levar a lugar algum. São meus estúpidos lamentos, minhas dores, meus xingamentos, minha auto piedade, minhas auto destruição. Vá ler um bom livro, isso sim te fará bem. Se tiver tempo, venha a minha casa bater um papo, ou talvez me contar uma piada, isso me fará bem; se é que se importa.!]

Nenhum comentário: